quarta-feira, 6 de março de 2013

Em busca da felicidade - parte 1: aguardando respostas

filme "Em busca da felicidade" – "The Pursuit of Happyness" (2006)

Eu nunca gostei de morar no Brasil. Nunca. Não me identifico com as músicas, as comidas, as novelas, o futebol, nada. Acho o calor insuportável. Nasci no país errado, definitivamente. A única coisa que eu aprecio verdadeiramente (além da minha família e dos amigos) são as praias. Mas como eu não gosto muito de torrar no Sol e de me sujar na areia, quando vou a praia, fico meia hora e já me dá aqueles 5 minutos de querer ir embora. Ninguem gosta da corrupção, mas muita gente esquece dos problemas quando chega o carnaval. Eu detesto o que o carnaval brasileiro se tornou. Tenho nojo do horário político, acho voto obrigatório um absurdo. É muita coisa mesmo, eu ficaria horas falando de tudo que não gosto no Brasil, como a lei do inquilinato, o fato de sermos obrigados a pagar não só o aluguel, como o condomínio e bancar toda manutenção do imóvel dos outros (diferente do Canadá que tem até um telefone pra você reclamar, caso o dono do imóvel não mande alguém pra arrumar o que estiver precisando).

Mesmo assim, eu não havia pensado seriamente em sair do país até ter meus filhos. É uma coisa muito difícil quando seu filho precisa de algo e você não pode dar. Veio aquela vontade grande de dar tudo que eles merecem, de lutar para que eles sejam felizes, livres. Pais são mendigos do sorriso de seus filhos. Fazemos o que for preciso pra vê-los felizes e todo o resto é secudário. Não quero que eles escolham uma profissão pensando em sobreviver. Quero que possam viver com dignidade fazendo o que gostam e aqui no Brasil isso é difícil de acontecer. Quase como ganhar na loteria. Mal posso imaginar como vou ficar preocupada quando sairem com os amigos de madrugada nessa violência toda. Também fiquei pensando que não quero ser um peso pra eles quando ficar velha. Quero que me visitem quando sentirem vontade e só pra nos abraçarmos e darmos risadas. Me lembro do dia em que minha mãe implorou pra que eu terminasse a faculdade com medo que eu não conseguisse sobreviver sozinha. E agora, quantas vezes temos que nos sacrificar pra que nossos filhos tenham roupas, sapatos comuns sem nenhum luxo. A mulher brasileira não tem o direito de ter filhos e cuidar deles quando ainda são muito pequenos. O machismo brasileiro mudou de forma, mas continua forte. Fui humilhada no trabalho quando engravidei. Agora trabalhando fora, temos dupla jornada e ficamos longe dos nossos filhos por 10 horas. Sem escolha. Quem se recusa a isso e escolhe os filhos como eu, paga um preço muito alto. Eu tenho pago. Não me arrependo, mas tem sido muito duro. Quase um castigo por ter deixado a carreira de lado por 4 anos pra formar cidadãos (meu maior pecado).

Essa vontade de dar o que eles merecem foi crescendo e a sensação de inadequação no Brasil também. A desigualdade social nesse país é uma das maiores injustiças que eu já presenciei. Como enfermeira, é duro ver que idosos que sofrem no SUS sem direito nem a um travesseiro, uma refeição decente, papel higiênico, um dia foram trabalhadores que suaram muito pra dar o mínimo pra seus filhos. Pessoas que contribuiram com seus impostos e não receberam nada em troca. E eu me pergunto: cadê a meritocracia? Dizer que pra conquistar as coisas basta correr atrás e vencerá por seus próprios méritos, nesse país, é uma mentira deslavada. Agora está tendo um boom imobiliário no Brasil. Os aluguéis estão absurdos e os imóveis à venda estão completamente fora da realidade. O custo de vida tem ficado cada vez mais impraticável. Ainda me lembro de quando um pastel de feira custava 1 real. Mas quantos conseguem sair desse circo e escolher um lugar mais justo pra viver? Poucos.

Nós, por exemplo, só temos uma esperança e essa é a terceira notícia que eu queria compartilhar com vocês: estou para receber um precatório, uma dívida que o governo do estado tem comigo há mais de 10 anos. O valor realmente é bem alto. Daria pra custear todo processo de imigração duas vezes. Sem isso, vai ser muito difícil para nós (eu diria impossível) obter todo dinheiro da imigração. Queríamos imigrar justamente porque nossa vida tem sido muito difícil aqui, mas olha que ironia: o motivo que nos faz querer ir embora é o mesmo que nos impossibilita. Perdemos muita coisa: carro, apartamento, etc. O dinheiro que Père recebe só dá pra pagar as contas e não conseguimos guardar dinheiro. Nem pagar escolinha, não dá. 

Então, uma pessoa muito íntima minha ficou de averiguar o processo do precatório pra mim no fórum. Geralmente você leva quase 2h na fila pra ser atendido e eu com 2 crianças pequenas teria sérios problemas em me deslocar de ônibus até lá (não sou preguiçosa, mas o local é muito longe da minha casa e quando você está a pé com 2 crianças muito pequenas que querem colo toda hora, algumas coisas ficam impraticáveis). Enfim, a pessoa foi lá inúmeras vezes e cada dia a notícia era diferente. Teve até um período onde não se achava minha pasta do processo. Passei muito nervoso. Mas as últimas notícias é de que o pagamento já foi aprovado e algumas pessoas já receberam. Estão pagando quem é prioritário (idosos, deficientes) e quem tinha uma quantia menor a receber. ou seja, estou na fila, mas um dia meu pagamento sai.

Mas que dia? Esse vai ser o próximo capítulo. Amanhã essa pessoa, juntamente com uma advogada da minha família, vão até o fórum ver se consegue descobrir a data do pagamento e o valor correto. O problema, como eu já mencionei antes, é que eu precisaria aplicar ainda esse ano por causa da experiencia profissional. Eu e minha família estamos presos nesse país, assim como muitos. Faz mais de 10 anos que eu espero pelo pagamento desse processo. Mas se o meu pagamento não sair esse ano, terei que pedir um empréstimo pra alguém e quando o precatório sair, eu pago a pessoa. É o meu plano B, que eu quero evitar ao máximo por saber que seria um pedido no mínimo indecente de se fazer a alguém, visto o valor alto a ser emprestado. 

Existe uma única pessoa na família que talvez pudesse me ajudar com empréstimo. Mas eu me sinto tão mal em fazer esse pedido que pedi que minha mãe conversasse com a pessoa antes. Sinto até vergonha porque parece que não sou capaz de resolver meus problemas sozinha, mas pra mim ainda depender dos outros pra ser alguem na vida é vergonhoso e humilhante. Coisas que só o Brasil faz por você. Em breve vou saber a resposta do precatório e da pessoa e isso vai definir o meu futuro e o futuro dos meus filhos. Por isso, agora ta meio difícil de controlar a ansiedade. Dias atrás, tive uma crise. Só a professora de francês (fofa demais) conseguiu tirar um sorriso do meu rosto. Eu só chorava. Acordo na madrugada pra tentar achar uma saída.

Caso a pessoa me dê um sonoro "não" e o precatório não saia esse ano, meu plano C é voltar a trabalhar pra ter novamente experiência na área e esperar o precatório sair. Eu já comentei que não queria colocar meus filhos na rede pública daqui, mas estava realmente disposta a sacrificar a parte mais preciosa da minha vida (e da vidinha deles) pra conseguir o dinheiro pra imigrar e dar um futuro decente pra eles. Então fui procurar vagas na minha área. Quase cai pra trás quando vi que estão oferecendo mil reais para enfermeiro. Como fiquei 4 anos cuidando dos meus filhos, não fiz especialização e tenho pouca experiência. Isso quer dizer, que não vou ter dinheiro nem pra dar entrada no processo enquanto o precatório não sair.

Outra opção era Père conseguir um emprego no Québec, daqui. Mas ele não conseguiu tirar nenhum certificado ($$$) ainda e percebeu que nas vagas canadenses sempre pedem. De qualquer forma, fiz uma planilha com todos os gastos, desde o TCF até os gastos nos primeiros meses de Québec. Computei tudo. E deu mais de 50mil reais para nós que somos 4 (5 com a cachorrinha). Posso fazer um post só com os gastos depois. Eu já imaginava, mas ver o valor ali foi um tapa na cara. Foi como ouvir: "o Canadá não é pro teu bico, esquece!". Até mesmo porque, no plano C, eu vou ter que torcer muito pra ainda ter o perfil desejado pelo Québec. Vou estar mais velha e o processo de imigração vive mudando. Já pensou, gastar tempo, dedicação e uma boa grana pra ser rejeitada? Esse precatório é a minha única chance, seja lá o que eu for fazer com ele.

E por que eu estou escrevendo isso e expondo um problema tão íntimo e humilhante? Porque se você tem condições e está na fila do processo, lembre-se que é só uma questão de tempo. É claro que o processo de imigração está uma zona, claro que está havendo desrespeito e eu concordo plenamente com a revolta de todos. Mas dos males o menor. Por isso, quando o visto chegar na sua casa, sinta-se privilegiado. Tenha a certeza de que muitas pessoas gostariam de estar no seu lugar, gostariam de que o único problema fosse uma espera mais longa. 

Mas, eu tenho um plano D, caso tudo dê errado ou eu chegue a conclusão que o plano C é arriscado demais. Porque tem que haver vida além do Québec, ou então sentemos todos e tomemos diabo verde. Estou cogitando ir pra uma cidade mais tranquila no Sul do Brasil pra poder criar meus filhos na simplicidade. Vão frequentar a escola pública mesmo porque não temos como pagar um bom colégio, vamos depender do SUS e teremos que nos conformar com isso. Pelo menos vamos respirar um ar mais puro e ter uma vida mais tranquila. o problema é Père achar emprego numa cidade tranquila no Brasil. Mas eu não suporto mais viver numa cidade que preciso de carro pra ir na padaria. Dai vamos ter que nos entender aqui. O que não dá mais é pra viver como temos vivido. Nesse caso, o precatório será pra dar entrada numa casinha. Pelo menos terei onde cair morta. Mas confesso que se só me sobrar o plano D, vai ser f*oda ter que se conformar sabendo que um país de primeiro mundo está precisando de enfermeira e eu não poderei mais ir pra lá por culpa do governo do meu próprio país.

Enquanto isso, eu espero. E reflito.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Novidade #2: mudanças no processo de imigração!


Desde que o escritório de imigração foi pro México (antes ficava em São Paulo pra quem não sabe), o pessoal que já aplicou pro processo tem ficado de cabelo em pé. Acontece que do nada começaram a exigir documentos originais e as cópias autenticadas do cartório não têm mais valor (pra eles). Imaginem as pessoas que já tinham tirado todas as cópias, feito a tradução, pago a taxa e mandado via fedex. Juro, me coloquei no lugar delas e achei uma sacanagem. Deveriam, no mínimo, ter feito um comunicado oficial e só ter desconsiderado as cópias do pessoal que aplicou depois desse comunicado, vocês não acham? E aí, #comofaz? Tira segunda via ou manda o único original mesmo. E depois torce pra eles não perderem nada, senão ta todo mundo fufu. 

A novela das entrevistas
Uma tendência forte no processo é abolirem a entrevista. Pelo menos é o que eles dizem. A entrevista tem mudado um pouco de cara e propósito também. Primeiro era pra avaliar a chance de adaptação e o francês, já que não necessitava fazer teste de francês. Depois avaliava a adaptação e a autenticidade dos documentos originais, já que podiamos mandar as tais cópias autenticadas. Agora é pra avaliar a adaptação somente em pessoas que não atingiram a pontuação mínima com a documentação. Parece haver o interesse de agilizar o processo (que ta lento pra kct) pulando a entrevista, mas a etapa federal ainda tá embaçada, mesmo eles tendo reaberto o processo federal. O pessoal de 2011 está sendo convocado para entrevista só agora em março. Vamos ver se melhora. Também tenho tido notícias de que enfermeiros que fizeram o TCF e aplicaram em julho/2012, já estão de CSQ na mão e sem entrevista. Mas nem todo mundo tem tido a mesma sorte. Está um tal de perder TCF do pessoal que dá medo! Tanto esforço pro pessoal desorganizado do México perder nosso TCF. Muita gente que é prioritário e tirou nota alta no TCF, tinha a esperança de não precisar passar pela entrevista e receber seu CSQ direto via correio, mas foi chamado porque perderam seu TCF. Saudades do escritório de SP.

Chá de cadeira
Ultimamente o processo todo (provincial e federal) tem durado em média 3 anos. Há pouco tempo atrás era 1 ano em média. Imagina ficar 3 anos com aquela expectativa de uma mudança tão grande de vida! Fora os anos de francês (se bem que enfermeira eles dão uma acelerada na imigração, só que chegando lá tem que estudar quase 2 anos pra validar o diploma e fazer uma prova ferrada, queridos). Provavelmente vou passar um bom tempo apanhando no Canadá antes de me ver de scrubs coloridos num hospital legal. Por isso quando vejo propaganda da imigração como se fosse super fácil e rápido, dou risada! Isso aqui não é pra qualquer um não.

E provavelmente mais coisas vão mudar: parece que até o final de março sairão as novas regras do processo provincial. O medo é que o Québec feche ainda mais o cerco, como tem feito nos últimos tempos. De qualquer forma, estamos confiantes porque nossas profissões têm alta demanda há anos e em vários países. Por outro lado, na nossa classe, de 7 alunos, 3 são de TI, rs. A concorrência ta aumentando, galera! Semana passada, eu estava na rua e passou um casal por mim e deu pra ouvir a conversa: "ouvi falar que entrar pelo Québec é bem mais fácil". Poisé, meus amigos. Estamos todos querendo uma fatia desse bolo gelado que parece tão apetitoso. Só que é bom manter os pés no chão. Nas palestras, eles gostam de falar sobre como a população está envelhecendo, de como a mão-de-obra está escassa, mas omitem como os empregadores tem grande receio de contratar imigrante sem experiência canadense, problemas no processo de imigração, demora sem explicar o que está acontecendo, etc. Por isso é importante avaliar bem os verdadeiros prós e contras antes de se jogar nessa loucura de imigrar pra outro país. Tenho visto muita agonia e frustração no pessoal que já está no processo. Um dia você é convocado, mas parece que é conforme a vontade deles e as regras podem mudar de uma hora pra outra. Uma das coisas que mais se comenta entre os blogs é que é preciso ter muuuuita paciência e ponderar muito sobre a realidade que vai encontrar lá (será que vale a pena pra você?). E pra isso, só muita pesquisa e tempo pra digerir tanta informação. A verdade é que não pode ser simples nem tão rápido demais pra ninguém tomar a decisão por impulso e depois se arrepender. Porque, né, quem nunca saiu dessas palestras querendo imigrar no dia seguinte?! Penso que o processo de imigração é parecido com a seleção natural que originou a evolução das espécies. Quem sobrevive a ela, chega mais forte pra enfrentar a próxima etapa (que dizem ser mais difícil ainda), que é a adaptação ao novo meio. Se o processo fosse fácil e rápido, certeza que ia ter muita gente desistindo do Canadá no primeiro mês de adaptação. 

Tendências
De qualquer forma, todos os palestrantes têm orientado para que tentemos ir pro Québec com visto de trabalho no primeiro momento. Parece que essa é a tendencia daqui pra frente. Aliás, é assim nas outras provincias, se não me engano. Talvez o Québec queira, aos poucos, se equipararcom elas. Mr. leblanc orientou sobre tentar o visto de trabalho numa palestra que fomos e hoje a gente já ta vendo o porque. Deve haver mesmo o interesse do governo em diminuir o número de imigrantes esperando serem convocados e desempregados quando chegam no Québec, já que o importante pra eles é que os imigrantes contribuam com os impostos logo. Quanto mais rápido o imigrante se recolocar no mercado québécois, melhor pra todo mundo. E nada melhor do que ir pro Québec com vaga garantida. Nós já falamos sobre isso em outro post e pretendemos insistir nessa tecla. É a maneira mais segura e mais rápida de ir pra lá atualmente. Quando você consegue a vaga, leva em torno de 4 meses pra se mudar de mala e cuia pro Canadá. Uma boa maneira de conseguir uma vaga lá fora são as missões de recrutamento. A área de TI é a mais beneficiada com isso. O problema é que no ano passado, em fevereiro já se sabia que no meio do ano haveria uma missão aqui no Brasil e esse ano, até agora, nada.

Depois de 1 ano avaliando todas as questões, nós ainda queremos comprar essa briga. Mas eu não posso demorar muito pra aplicar para o processo de imigração. Nas regras atuais (na data em que esse post foi escrito) ou você tem um diploma com menos de 5 anos, ou você tem experiência profissional nos últimos 5 anos. Meu diploma tem mais de 5 anos e minha experiência profissional já tem 4 anos. Tenho que correr atrás disso esse ano ainda, mais tardar começo do ano que vem. "Mas, Mère, por que você não volta a trabalhar?" - porque eu não tenho com quem deixar mes enfants e o salário que eu ganharia não daria pra pagar escola para os dois. Me sobraria a opção da escola pública e eu estou evitando isso ao máximo por achar o ensino público, em sua maioria, um lixo nesse país (vou falar mais sobre isso em outro post pra me explicar melhor).

Bonne chance, Mère.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sessão Francófona - 3

Eu quero uma casa no campo...

Pegando carona com o post anterior (onde postei a música do grupo Kaïn, "Embarque ma Belle"), gostaria de falar sobre um filme québécois, que não é o melhor filme do mundo, mas tem uma forte mensagem sobre os ideais dos québécois. Já que a gente quer morar lá, é bom ir se acostumando com a cultura deles, né! A letra da música diz basicamente sobre um cara que está cansado de dar satisfações e ter que ouvir todo mundo dizer como ele deve agir e que convida uma moça a largar a vida na cidade pra viver em liberdade com ele no campo, sem a necessidade de dinheiro. Não sei se ainda hoje é assim, mas senti um choque cultural quando a classe achou a letra da música extremamente romântica e utópica enquanto a professora tentou explicar que há pessoas no Québec que vivem assim e que lá é possível esse estilo de vida. É importante lembrar que apesar do Canadá se tratar de um país de primeiro mundo, a Belle Province é bem peculiar e com uma zona rural muito grande.

Nos anos 70, muita coisa aconteceu regida ao estilo hippie da época. No québec, parece que isso foi ainda mais forte. Quem já estudou a história do Québec, sabe que a sociedade québécoise tem a particularidade de ter se mantido rural enquanto o resto do Canadá se desenvolvia com a industrialização. Claro que a modernidade acabou invadindo o Québec inevitavelmente, mas ficou a cultura ruralista que existe até hoje, apesar de mais fraca. Depois da opressão da igreja católica e do governo, a necessidade de liberdade e da recuperação de suas origens rurais fez com que os québécois tivessem o sonho dourado de voltar ao clima campestre. De fato, lendo entrevistas com celebridades do Québec, já vi mais de uma vez responderem que seu sonho é viver no campo, cuidando de animais e que gostam do estilo "cowboy".

Tanto a música do grupo Kaïn como o filme que vos apresento, "La Vraie Nature de Bernadette", abordam nitidamente esse ideal. Para eles, a liberdade está muito ligada à natureza, tanto no sentido rural como no sentido da natureza própria do ser humano. E sair do meio urbano, das regras religiosas e governamentais e viver de acordo com sua própria natureza remete à idéia de amor livre. 

Nesse filme, uma advogada chamada Bernadette deixa a cidade e seu marido para viver no campo. Aqui fica já evidente a idéia de que o casamento (instituição religiosa) é uma prisão sem grades (idéia explorada também no filme "O declínio do império americano"). Lá, ela conhece Thomas, um agricultor que desafiou os monopólios da indústria alimentícia (crítica direta ao sistema). No campo, Bernadette atende às necessidades amorosas – e sexuais – dos habitantes do entorno, o que inclui um deficiente físico, desprezado por todos - mas não por ela - e um trio de velhinhos até então bastante deprimidos na terceira idade.  Paradoxalmente, ela começa a ser vista como uma santa que atende aos desejos destas pessoas tão carentes, que tornam-se mais animadas para as reformas necessárias - dentro e fora de casa.  Como se não bastasse, além do amor livre, institui o vegetarianismo (prática em voga na década de 70) - o que obriga os velhinhos a comer carne às escondidas. A postura de Bernadette, obviamente, vai gerar fortes inimigos, mas alguns deles vão emergir exatamente no seio da filosofia de “paz e amor” professada por ela que, gradativamente, de santa, começa a ser interpretada como vilã e pecadora. Bernadette descobre que o campo não era tão tranquilo como pensava e através de suas descobertas acaba se deparando com sua verdadeira natureza. Vale a pena assistir a título de curiosidade e pra treinar o francês.

Bisous, Mère.

Novidade #1: francês 2.0


Salut!

O blog fez 1 ano (eeeeh!) e decidimos começar a escrever na primeira pessoa. Deixar o blog mais pessoal, informal e com os textos mais com a cara de cada um que for escrever aqui. Já é um primeiro passo rumo a revelar nossa identidade que provavelmente só acontecerá depois que estivermos no nosso destino final (sabe como é, muitos conhecidos nossos nem sonham que estamos planejando tudo isso. Se deparar com uma novidade desse porte, assim na internet, não seria legal).

Então começaremos comigo, Mère. tenho 3 coisas pra contar pra vocês, mas como são extensas, vou dividir em três posts sendo este o primeiro:


Faz 1 mês que mudamos de curso. Estávamos há 1 ano aprendendo francês com um professor particular de Ontário, mas a coisa tava indo muuuito devagar. Devagar quase parando mesmo. Ele é um amor, mas tranquilo demais, suas aulas eram sempre a mesma coisa sem muita mudança e aquela Grammaire Progressive é um saco. Essa coisa de ficar preenchendo lacuna de frases simplesmente é uma perda de tempo. Num primeiro momento parece prático já que você não precisa escrever a frase toda economizando minutos preciosos da sua vida, mas a médio e longo prazo você demora mais pra gravar as palavras e conjugações porque o segredo da coisa é escrever a frase toda! Dá mais trabalho, mas você grava mais rápido. Mas enfim, vivendo e aprendendo. Agora estamos na famosa école Québec e eu só tenho elogios a fazer! Não poderíamos ter feito escolha melhor. E eu não estou ganhando cachê nenhum pra dizer isso, rs. Como se passou 1 ano e nem saímos do débutant, recomeçamos do zero, mas no intensivo. Em 6 meses (5 agora) estaremos no intermédiaire. Fazemos redação toda semana, já fizemos uma provinha e já cantamos uma música québécoise. Aliás, a música é ótima pra aprender o sotaque e todas as abreviações feitas na pronuncia. O famoso "chuis" e coisas desse tipo.

Essa é a música que a gente cantou ontem (com a letra correta)

Agora com a letra da pronúncia pra vocês verem a diferença:


À la prochain!
Mère.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Bonne Année à Tous!

Grande Allée
É o que desejamos! Que 2013 seja um ano cheio de realizações para todos nós, que muitas pessoas pisem nas terras quebequenses e que muitas pessoas ganhem seus CSQs, seus vistos de residência permanente, que consigamos notas boas no TCF-Q e que apliquemos para o processo ainda esse ano!!!!! E vamos agradecer pela oportunidade de em breve vivenciar tudo isso nesse país maravilhoso que será nossa casa.

Pra ajudar na energia positiva, um video do Réveillon (que nos pareceu bem animado) na principal avenida de Ville de Québec, a "Champs Élysées" de lá, Grande Allée:

Que essa energia tome conta dos seus corações e traga muita alegria em 2013!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sessão Francófona - 2

O segundo filme da nossa sessão francófona não é québécois, mas é FANTÁSTICO. Intouchables supera as expectativas. Ele conta a estória de um milionário tetraplégico e seu cuidador senegalês ex-presidiário.

O bonito é como um ensina o outro a viver e retomar suas vidas de onde parou. Sem dúvidas, um dos melhores filmes franceses que já assistimos. Principalmente porque é baseado em fatos reais. Deve ser por isso que foi o filme mais assistido na França em 2011 e o mais rentável filme francês da história.

Destaque para o ator Omar Sy, que faz o cuidador do tetraplégico. Ganhou muito merecidamente o César de melhor ator nesse ano de 2012 por essa atuação e realmente ele dá um show nesse filme.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Pensamento positivo!

Neva a cântaros na Belle Province hoje... escolas foram fechadas e já há 40cm de neve nas ruas. A temperatura é de zero grau, ideal pra colher maple syrup! Mas pra quem vai curtir a neve em casa, deve estar uma delícia.

Enquanto isso, sofremos com o suspense sobre os processos de imigração. O drama se deve ao fato de que o Processo Federal (suspenso no ano de 2012) vai ser reaberto, porém com muitas mudanças. Será que essas mudanças afetarão os processos provinciais? Com um governo mais conservador que está organizando a imigração canadense de modo que o país receba trabalhadores mais qualificados, fica a dúvida. Até mesmo porque há rumores de que a intenção é criar um banco de profissionais qualificados onde o candidato a imigração se inscreveria e somente os escolhidos pelas províncias seriam convidados a aplicar para o processo de imigração. De qualquer forma, ainda acreditamos que o nosso diferencial é o francês. Não é todo mundo que tem a coragem de se aventurar em outra lingua, aprender do zero pra mudar de país.

Por causa disso, nossa esperança é que Québec continuará um pouco mais fácil de se imigrar (ou menos difícil?). Se eles tentarem apertar muito o parafuso, espana e vai todo mundo pra parte inglesa. Mesmo assim, há rumores de mudanças desagradáveis para março de 2013, como filhos não valerem mais pontos. Até lá são apenas especulações, mas pra quem está apostando todas as fichas na imigração, cada notícia mesmo que extra-oficial é de causar um certo pânico.

Por isso, nosso objetivo maior em 2013 é arrebentar no francês para que Mère tire C1 e Père B2. Quanto maior a nota, menos durará o processo provincial podendo até eliminar a necessidade de entrevista. Queremos dar entrada no processo no final de 2013, mais tardar começo de 2014. Estamos com o forte pressentimento de que não podemos mais dormir no ponto. Vida de candidato a imigração não é mole. Se não infartarmos até chegarmos no Canadá, não infartamos mais!