terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sessão Francófona - 3

Eu quero uma casa no campo...

Pegando carona com o post anterior (onde postei a música do grupo Kaïn, "Embarque ma Belle"), gostaria de falar sobre um filme québécois, que não é o melhor filme do mundo, mas tem uma forte mensagem sobre os ideais dos québécois. Já que a gente quer morar lá, é bom ir se acostumando com a cultura deles, né! A letra da música diz basicamente sobre um cara que está cansado de dar satisfações e ter que ouvir todo mundo dizer como ele deve agir e que convida uma moça a largar a vida na cidade pra viver em liberdade com ele no campo, sem a necessidade de dinheiro. Não sei se ainda hoje é assim, mas senti um choque cultural quando a classe achou a letra da música extremamente romântica e utópica enquanto a professora tentou explicar que há pessoas no Québec que vivem assim e que lá é possível esse estilo de vida. É importante lembrar que apesar do Canadá se tratar de um país de primeiro mundo, a Belle Province é bem peculiar e com uma zona rural muito grande.

Nos anos 70, muita coisa aconteceu regida ao estilo hippie da época. No québec, parece que isso foi ainda mais forte. Quem já estudou a história do Québec, sabe que a sociedade québécoise tem a particularidade de ter se mantido rural enquanto o resto do Canadá se desenvolvia com a industrialização. Claro que a modernidade acabou invadindo o Québec inevitavelmente, mas ficou a cultura ruralista que existe até hoje, apesar de mais fraca. Depois da opressão da igreja católica e do governo, a necessidade de liberdade e da recuperação de suas origens rurais fez com que os québécois tivessem o sonho dourado de voltar ao clima campestre. De fato, lendo entrevistas com celebridades do Québec, já vi mais de uma vez responderem que seu sonho é viver no campo, cuidando de animais e que gostam do estilo "cowboy".

Tanto a música do grupo Kaïn como o filme que vos apresento, "La Vraie Nature de Bernadette", abordam nitidamente esse ideal. Para eles, a liberdade está muito ligada à natureza, tanto no sentido rural como no sentido da natureza própria do ser humano. E sair do meio urbano, das regras religiosas e governamentais e viver de acordo com sua própria natureza remete à idéia de amor livre. 

Nesse filme, uma advogada chamada Bernadette deixa a cidade e seu marido para viver no campo. Aqui fica já evidente a idéia de que o casamento (instituição religiosa) é uma prisão sem grades (idéia explorada também no filme "O declínio do império americano"). Lá, ela conhece Thomas, um agricultor que desafiou os monopólios da indústria alimentícia (crítica direta ao sistema). No campo, Bernadette atende às necessidades amorosas – e sexuais – dos habitantes do entorno, o que inclui um deficiente físico, desprezado por todos - mas não por ela - e um trio de velhinhos até então bastante deprimidos na terceira idade.  Paradoxalmente, ela começa a ser vista como uma santa que atende aos desejos destas pessoas tão carentes, que tornam-se mais animadas para as reformas necessárias - dentro e fora de casa.  Como se não bastasse, além do amor livre, institui o vegetarianismo (prática em voga na década de 70) - o que obriga os velhinhos a comer carne às escondidas. A postura de Bernadette, obviamente, vai gerar fortes inimigos, mas alguns deles vão emergir exatamente no seio da filosofia de “paz e amor” professada por ela que, gradativamente, de santa, começa a ser interpretada como vilã e pecadora. Bernadette descobre que o campo não era tão tranquilo como pensava e através de suas descobertas acaba se deparando com sua verdadeira natureza. Vale a pena assistir a título de curiosidade e pra treinar o francês.

Bisous, Mère.

4 comentários:

  1. Uau! Que post bom! Faz tempo que eu não via um post assim na blogosfera imigrante... Gostei muito da sugestão e vou tentar baixar o filme. Se conseguir, assistirei com certeza!
    Abraços,
    Lidia.

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  2. Obrigada, Lidia! Depois me fala se gostou do filme.
    Abraços,
    Mère.

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  3. Olá!

    Eu consegui baixar esse filme, mas o sotaque do Québec rural é tãããão difícil de entender sem legendas... Vocês conseguiram alguma? Eu não consegui encontrar nem em francês nem em inglês. =/ (em português eu nem procurei, porque é certeza de que não existe!)

    Beijos,
    Lidia.

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  4. Também não encontramos as legendas...díficil entender o québécois rural mesmo! Acho que eu devo ter entendido uns 30%, rs! Mas pelo menos a gente entende o que está acontecendo pelas cenas. O negócio é não desanimar e continuar vendo filme e ouvindo rádio do Québéc!

    Beijos,
    Mère

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